Algo que para a sociedade ocidental contemporânea pode parecer inconcebível, a escravidão fez parte da vivência humana desde os primórdios de nossa existência no mundo. É considerada uma das formas mais básicas de imposição de poder, e também uma das mais complexas de se compreender.
Não se sabe ao certo quando o homem começou a escravizar outro homem. Há registros desse tipo de trabalho muito antigos e apesar disso, não é possível não pensar que antes mesmo do registros não existia a escravidão. Para reflexão, será mais importante perceber como essa prática se perpetuou perante a história e ainda continua em nosso mundo atual.
Características escravocratas
A escravidão não é simples. Tanto no modo como alguém se torna escravo, como na relação entre escravo e senhor, nas formas de sair da escravidão, na relação desse indivíduo com a sociedade a qual está inserido, entre outras muitas questões que poderão variar consideravelmente entre uma cultura e outra.
Basicamente, o que há de comum em todo o trabalho escravo é o serviço prestado sem remuneração e perca do direito da liberdade na relação de pertencimento a alguém. Nesse sentido, podemos dizer que não existe escravo livre e que não existe escravo que esteja desvinculado as questões de trabalho.
As pessoas podem se tornar escravas de várias formas. Na região da mesopotâmia e na Europa, há registros de pessoas que optavam pela escravidão para pagar suas dívidas. Nesse caso, a pessoa passaria um período de tempo como escravo de seu cobrador e retornaria a ser livre assim que pagasse todo o tempo.
Há também como se tornar escravo mediante ao sequestro ou captura em guerra. Em Esparta, por exemplo, os escravos hilotas eram muitas vezes prisioneiros de guerra que trabalhavam na agricultura e na criação dos animais. Em diversas regiões na África, o sequestro era uma forma de conseguir mão de obra escrava, como também as próprias guerras.
As questões sociais também podem ser determinantes nesse tipo de relação. Há lugares onde a condição de escravo é eterna e hereditária. Isso determina que o indivíduo já nasce nessa situação e que não existe possibilidade de ascensão ou mudança no estamento social. Esse tipo de escravidão é mais comum em sociedades onde existe a divisão por castas.
Escravidão moderna
A modernidade – iniciada após a revolução francesa – abriu caminhos para várias formas de pensar, de fazer política, de comércio – principalmente o comércio ultramarino – de guerrear e também de escravizar. Apesar dos ideias iluministas, a escravidão estava presente na modernidade como um importante pilar, principalmente nas colônias.
Nesse caso, a escravidão era mantida por um preconceito racial. Eram escravos todos os negros africanos transportados para as colônias nos continentes americanos, e também a condição escravocrata era passada hereditariamente aos filhos dessas pessoas.
Arraigados ao sistema agroexportador, os escravos em sua maioria trabalhavam nas fazendas sem remuneração. Apesar disso, existiam outros tipos de trabalho, como os serviços domésticos, o trabalho nas minas e os chamados “escravos de ganho”, principalmente no Brasil. Os escravos de ganho geralmente pertenciam aos comerciantes e ganhavam porcentagens dos lucros obtidos em suas vendas. Dessa forma, era comum que um escravo de ganho pudesse comprar sua alforria.
O Comércio de Escravos
Na modernidade, o navio era o que havia de mais impactante, novo e gerador de horizontes de expectativas que havia. Os navios traziam produtos, notícias e um mundo novo a cada viagem. E mais: os navios traziam os escravos.
A coisificação do ser humano é uma das maiores características da escravidão nos séculos XVI, XVII, XVII e XIX. Troca-se pessoas como se fossem produtos. Os escravos eram expostos em praças de vendas, banhados a óleo e enfileirados para que o vendedor pudesse obter seus lucros.
A maior rede de comércio de escravos foi feita pelos Negreiros durante séculos. O tráfico negreiro foi transcontinental e levou aproximadamente 200 milhões de escravos durante o tempo e funcionamento. Esses escravos eram comprados nos países africanos – onde a cultura da escravidão já existia há milênios e ainda se perdurava – por produtos variados, em geral o tabaco, o açúcar, ferramentas e armas, por exemplo.
No Brasil, o comércio de escravos talvez tenha sido o mais intenso do ocidente. A grande demanda de escravos para os mais variados serviços era comum entre as províncias brasileiras. Os escravos eram catalogados como “tipos” de acordo com a etnia que provinham. Cada tipo de escravo era considerado apto ou inapto a determinados serviços e isso influenciava diretamente no seu preço.
O preço dos escravos era um tanto alto para os padrões econômicos da época. Era uma “peça de trabalho” viva e com transporte ultramarino para encarecer no preço final. Há indícios de escravos que valiam o peso em ouro e em geral, ter um escravo era algo para poucos.
Escravidão contemporânea
Ainda existe escravidão no mundo. Em vários lugares da Ásia, da África e da América do Sul, ainda há pessoas que trabalham em condições desumanas e sem receber salário. Até mesmo no Brasil, existem regiões onde anda se podem encontrar escravos no trabalho agricultor.
As formas de escravidão contemporânea em geral podem ser encontradas quase no mundo inteiro. Podemos dizer que exploração do trabalho desregrada é uma forma nova se escravidão e que atinge principalmente os países de terceiro mundo. Trabalhadores sem condições de segurança, saúde, sem direitos trabalhistas e com cargas horárias enormes são os escravos pós-modernos, escondidos sob o signo da palavra “trabalho”, que como sabemos, sempre esteve ligada a própria escravidão.