Documentado e relatado também por Euclides da Cunha, o conflito de Canudos representou de forma essencialmente particular as ideologias e diferentes opiniões a respeito da república brasileira e de todo o sistema político e tributário do país, principalmente na Bahia.
A região de Canudos no interior do sertão baiano foi o palco de um dos maiores conflitos internos do Brasil durante o século XIX. Iniciado em 1896, o conflito duraria até o ano seguinte, quando finalmente se finda graças ações militares brasileiras.
O Arraial de Canudos ou Belo Monte
As altas taxações e tributos cobrados pela república brasileira perturbavam e dificultavam ainda mais a vida sofrida de milhares de pessoas nos sertões da Bahia. Vivendo muitas vezes em estado de miséria, essas pessoas e suas famílias acabavam por fugir das cobranças e adentrar ainda mais no interior.
Devido a estagnação dos problemas da miséria, fome e sede, o beato Antônio Conselheiro inicia sua doutrina religiosa para com os moradores das redondezas de Canudos. Esperançosos em suas promessas de vida próspera, justa e regida de acordo com as regras de Deus, grande parte dos moradores e desabrigados seguem Antônio Conselheiro, deixando para trás o trabalho e até mesmo suas poucas posses.
O contingente de seguidores só aumentava quando os latifundiários, já prejudicados pela perca de sua mão de obra denunciam e acusam Antônio Conselheiro para o Governo. Dentre as acusações, o latifundiários alegaram as tendências monarquistas do beato e desobediências as leis brasileiras.
Considerado inimigo da república, logo tropas policiais viriam averiguar a situação do povoado que se erguia. Com cerca de 25 000 habitantes, Belo Monte estava a cada dia mais próspera desde 1893. A chegada das tropas militares daria início a guerra contra as famílias sertanejas do local.
As batalhas
Ao todo foram quatro batalhas até que o Exército Brasileiro pudesse vencer o contingente de Belo Monte. As três primeiras investidas militares não tiveram sucesso, apesar de terem custado a vida de muitos sertanejos baianos. O primeiro conflito ocorreu em novembro de 1896 entre o destacamento policial pedido por Juazeiro de cem homens.
No conflito, as baixas dos sertanejos foram maiores que as do contingente policial, que perdeu 10 homens, além de 17 feridos. Porém, a ferocidade do ataque fez com que o medo de novos ataques retirassem as tropas policiais.
Já em janeiro 1897, uma segunda expedição militar tentou combater os revoltosos de Belo Monte. Nessa ocasião, os soldados foram repelidos com facilidade pelos sertanejos, apesar das baixas. Armas abandonadas ou até mesmo retiradas dos soldados foram aproveitadas pelos sertanejos que se fortificavam cada vez mais.
Em março do mesmo ano, uma expedição do Exército fora resolver o então problema de foco monarquista de Belo Monte. Antônio Moreira, conhecido com o Corta Cabeças foi encarregado da expedição, considerado herói militar no Brasil. O contingente de 1300 homens foi vencido pelos jagunços e sertanejos já munidos de armas e com mais experiência de combate. O próprio Antônio Moreira foi morto em combate e seu oficial sucessor também foi assassinado em combate no mesmo dia. Com a perda dos comandantes, o restante da tropa bateu em retirada.
A última expedição comandada pelo Arthur Oscar de Andrade teve também dificuldades em adentrar no arraial de Belo Monte. O clima desfavorável e a precariedade de abastecimento das tropas enfraqueceu os soldados e dificultou as investidas. Depois de resolvido o problema de abastecimento, as tropas monidas de armas pesadas e canhões conseguiram adentrar o arraial. No dia 22 de setembro, Antônio Conselheiro morre vítima de disenteria. A morte do líder abala o povoado e facilita a entrada das tropas do exército brasileiro.
Ao fim de outubro, todos os moradores são degolados numa operação chamada de Gravata Vermelha, ordenada pelo general Oscar de Andrade. Isso se configurou num dos maiores crimes cometidos em solo brasileiro.