O carnaval é uma festa essencialmente cultural brasileira e com raízes um tanto distantes que, aliadas a uma grande gama de transformações, misturas e resinificações resultou na grande festa que é hoje, considerada como o maior espetáculo a céu aberto do mundo e que só pode ser conferido nas lindas terras brasileiras.
Como um legado de festas que apelavam para a sexualidade, o mistério e a fantasia da Europa – festas essas que tinham influências culturais germânicas e romanas anteriores a cristandade -, o carnaval teve desde sempre em sua raiz, uma compilação de desejo reprimido por diversos valores cristãos e morais. Nas festas a fantasia da Europa, a fugidas de casal momentânea já podiam ser encontradas.
Com o descobrimento dos continentes americanos, a Europa passou por uma transformação mesmo sem estar presente por aqui. Isso porque o contato com povos e culturas tão diferentes fez com que eles reconhecessem sua própria identidade. Foi como se a Europa fechasse ou separasse seu mundo do novo mundo.
Os europeus que vinham para os continentes americanos viam nisso uma fuga de da coroa e da maioria dos valores morais e religiosos. Mesmo com a presença da igreja nas colônias, as distâncias eram imensas dos países colonizadores. Pisar no Novo Mundo era como adentrar no purgatório. Como se as coisas e valores adquirissem outros sentidos.
As culturas europeias e indígenas tiveram uma relação sincrética violenta nas colônias. Porém, o sincretismo de valores e práticas também ficou evidente nas novas nacionalidades. Costumes e hábitos dos diferentes países que foram colônias se diferem em muito pela imensa variabilidade de etnias que se encontraram. O carnaval encontrou no Brasil, um ambiente mais propício e livre para sua prática e se modificou com o tempo.
A sensualidade livre, inocente e desprendida indígena, ligada a sexualidade africana e ao desejo europeu transformaram o carnaval em uma grande festividade no Rio de Janeiro, onde todos mascarados estariam livres de seus cônjuges e da igreja por alguns dias. As fantasias com o tempo foram incorporando elementos indígenas como as penas, as peças pequenas e nudez, juntamente as danças africanas e o estilo musical sincrético do samba.
A importância do carnaval permitiu o inicio das competições entre grupos temáticos, o que mais tarde serão chamados de escolas de samba. Essa prática será adotada principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os participantes do grande espetáculo circulam sua vida, o samba, o trabalho, os valores e o tempo para a preparação das alegorias, fantasias, musicas e coreografia.
Ver a escola de samba ganhando é como ver o Brasil levantando a taça do mundo, mas sem precisar do mundo pra assistir, pois a importância é nossa e só nossa. O carnaval tomou também outros rumos e proporções nas diferentes localidades do país. Assumindo o caráter de festa de rua e livre, Salvador e grande parte do nordeste não atribui competições a festa.
A festa em Salvador é como uma grande euforia pelas ruas da cidade com muita cantoria e liberdade. Atualmente, os trios elétricos fazem a música, que não é o samba e sim o axé e outros ritmos culturais da Bahia. Em Pernambuco, tem-se a presença do famoso frevo, que mais parece uma marchinha quase uniformizada e com muitos bonecos típicos.
O país inteiro de alguma forma comemora as festividades carnavalescas. Os blocos do Rio de Janeiro são os mais famosos e são apresentados no sambódromo, festividade que é vista em todo o mundo e que também é apreciada por milhares de estrangeiros. Uma festa com peso histórico e cultural tão relevante que move os olhos do mundo para o país.
Antes de vestir o abadá ou comprar os ingressos do sambódromo, pare e pense no que você estará indo participar. Reflita em todas os possíveis significados de cada elemento, viaje nas possibilidades. Não encare só como uma festa, mas como um rito cultural milenar e curta o carnaval orgulhoso de nascer em um país tão plural e complexo como o Brasil.