Desde que Pedro Álvares Cabral pisou nas terras que futuramente seriam brasílicas, a intenção de obter riquezas naturais já se fazia presente. Na carta de Pero Vaz de Caminha sobre o primeiro contato dos portugueses em nosso continente registra uma diálogo com povos indígenas que, por meio de gestos indicaram a presença de metais preciosos em sua terra.
Apesar disso, os esforços de Portugal estavam concentrados em outras províncias além mar e as primeiras expedições ao Brasil viriam anos mais tarde. Inicialmente com a extração do pau-brasil (origem do nome da colônia e gentílico brasileiro) e posteriormente com o plantio do açúcar, Portugal conseguiu assegurar lucros no comércio marítimo com a Europa.
A febre do ouro – um início bem-vindo
A descoberta do ouro se deu em um momento muito oportuno. O açúcar da colônia brasileira que antes assegurava um comércio praticamente de monopólio para Portugal, agora encontrava um concorrente a altura. Os canaviais holandeses cultivados nas Antilhas acabaram tendo qualidade similar ao da América, porém com preço baixo devido a proximidade com a Europa.
O monopólio chegava a fim e a força dos grandes canaviais brasileiros entrava em decadência. A colônia entrara numa crise e outra fonte de renda deveria surgir para restabelecer a economia. Nesse contexto em pleno fim do século XVII, os primeiros indícios de ouro são encontrados por bandeirantes numa região pertencente a província de São Paulo, mais tarde conhecida como Minas Gerais.
Antes mesmo de lucros surgirem, a notícia da descoberta do ouro na colônia se espalhou e cruzou o atlântico. Portugueses de todos os cantos da colônia e de Portugal se aventuraram à região aurífera que mais tarde se tornaria Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto), e outras como Mariana e São João Del Rei.
A Febre do Ouro teria um importante papel para a extração desse metal precioso. Uma vez que muitas pessoas dispostas a investir tudo o que tinham na coleta do ouro, maior quantidade seria retirada e Portugal teria mais lucros na cobrança de impostos. Assim começava a corrida pelo ouro brasileiro.
A vida aurífera
No século XVII, a quantidade de metais preciosos no tesouro de um país determinava sua força, seu prestígio e sua economia. Tratava-se no metalismo, onde praticamente a melhor moeda internacional não se tratava de libras, mas sim de ouro e prata. A importância e o valor desses metais atraíram milhares de pessoas ao Brasil e a Potosí, por exemplo.
Enriquecimento fácil era o que os aventureiros buscavam. Porém, a realidade nas minas era dura. Devido a distância das principais cidades coloniais, o preço de todo material, alimentação e mão de obra era bem acima da média. Para ter um bom lucro, o investidor deveria ter uma grande quantidade de escravos e muito capital para continuar a compra desses, pois o falecimento de escravos era muito frequentes. As péssimas condições de trabalho contribuíam largamente para isso.
Quem visita a atual cidade de Ouro Preto faz uma viagem no tempo. Tudo é belo, antigo e imponente. Mas os lindos casarões, a ruas tortas e cansativas ladeiras de pedrinhas denunciam uma difícil vida na antiga Vila Rica, frequentemente narrada pelos guias turísticos do local. Escravos que subiam e desciam as cansativas ladeiras carregando barris de água e ouro todos os dias, a escassez de alimentos, os preços absurdos, o alto risco no garimpo e a sensação de estar preso em um mundo de horrores é altamente perturbadora. Um guia diria: houveram pessoas que morreram de fome, porém com potes abarrotados de ouro em suas residências.
Administração do Ouro
Apesar de muitas dificuldades, o enriquecimento de fato veio para muitas pessoas e os lucros de Portugal nunca foram tão altos. O Brasil exportou toneladas de ouro e as cidades auríferas desfrutaram de muito renome e prosperidade econômica e estrutural. Melhorias na qualidade de vida, aquecimento do comércio, construção de escolas, igrejas, teatros e órgãos públicos marcaram esse rico período.
Isso foi possível porque grande parte do ouro ficava no Brasil. As casas de fundição determinavam de 20% (um quinto) de todo e qualquer ouro minerado deveria ser destinado ao pagamento de impostos a Portugal. Dessa forma, os dois lados saíam ganhando no comércio de ouro, apesar das coisas serem mais difíceis no Brasil.
Além do imposto do quinto, Portugal estipulava uma quantia base a ser recolhida anualmente nos impostos. Caso a arrecadação não atingisse esse número, as tropas portuguesas iniciavam o processo de derrama. Consistia em tomar a força os bens preciosos dos habitantes das cidades auríferas a fim de bater a meta anual.
Tanto os impostos como a derrama foram motivos para diversas revoltas nesse período. A mais famosa, Inconfidência Mineira ocorreu em 1789 e foi sufocada pelas tropas portuguesas. Durante aproximadamente oitenta anos, a colônia brasileira foi a mais importante no setor aurífero mundial.