Hoje em dia é cada vez mais crescente a quantidade de pessoas que estão envolvidas em casos de vício na internet e em jogos eletrônicos. Mesmo que no Brasil ainda existam poucas clínicas que oferecem esse tipo de atendimento, as oportunidades de tratamento para pessoas com esse transtorno tem aumentado consideravelmente.
Durante uma entrevista à Folha de São Paulo, um psicólogo do Hospital das Clínicas relatou casos extremos que já surgiram no Instituto de Psiquiatria, como o caso do homem que passou mais dois anos sem sair de casa apenas jogando, e o adolescente que ficava por 40 horas diante do computador em jogos.
Adolescentes
Segundo estudos da psicologia, o adolescente que em seu cotidiano se encontra com quadros de depressão, ansiedade, baixa auto-estima ou até mesmo com dificuldades em construir e manter relacionamentos pode conseguir através da internet constituir uma nova imagem de si mesmo, se escondendo atrás das telas de um computador.
Boa parte das pesquisas feitas no exterior afirma que, ao menos 10% de todos os usuários da internet no mundo já são viciados. Mesmo não existindo muitas pesquisas brasileiras nessa área, a probabilidade é que o índice do país não seja muito dissonante do mundial, uma vez que o Brasil é um dos países cujo a população gasta mais tempo conectada à internet.
No mundo
Nos EUA, existe um clínica que oferece a seus pacientes um tratamento exclusivo para quem usa a internet, jogos eletrônicos e SMS excessivamente. Neste processo de recuperação o usuário fica durante 45 dias em um hotel fazenda e recebe diariamente terapias comportamentais breves, individuais ou em grupo, as quais servem como meio de troca de experiências, informações, realização de exercícios físicos, dentre outras atividades lúdicas.
Para tornar o tratamento mas efetivo, em conjunto com essas atividades é oferecido acompanhamento por médicos, psicólogos, psiquiatras e especialistas em tempo integral, de modo a prescrever e administrar medicamentos, fazer avaliações nutricionais e dar orientações profissionais aos pacientes, a fim de que eles sejam capazes de se reintegrar perfeitamente à sociedade. Familiares também recebem apoio para ajudar durante o tratamento e convivência com o viciado.
A Coreia do Sul é outro país que já convive com o problema há tempos, onde a estimativa do governo é que até 14% dos jovens sejam viciados, por isso está investindo fortemente na construção de clínicas de reabilitação. O tratamento terá em seu itinerário exercícios físicos e atividades em grupo que propiciem o contato social e com o meio ambiente.
O governo chinês estima que em seu país existam cerca de 632 milhões de usuários de internet, sendo que desse total, 10% são menores de idade que se encontram em situação de vício na rede mundial de computadores.
Sinais do vício em jogos
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana, é possível identificar o jogo patológico por meio de algumas características relacionadas a resistência e recorrência demasiada voltadas ao ato de jogar, o qual se indica mediante a constatação de cinco dos seguintes “sintomas”:
- Ter um preocupação excessiva com o jogo no que tange questões passadas, expectativas para o futuro ou planejamento de novas ações.
- Sentir uma necessidade muito grande para aumentar a quantidade de apostas de modo a ficar excitado o suficiente durante a partida.
- Ficar inquieto em momentos que não esteja em contato com o jogo.
- Se esforçar continuamente na tentativa de controlar esse comportamento e sempre falhar.
- Visualizar o jogo como uma espécie de fuga para problemas cotidianos ou doenças mais sérias, como a depressão ou ansiedade.
- Após uma perca, sempre retornar no dia seguinte com o intuito de recuperar o que foi perdido.
- Mentir para as pessoas a sua volta com intenção de esconder o envolvimento com o jogo.
- Participar de ações ilegais para se manter em um jogo, como fraude, roubo, falsificação, entre outros.
- Arriscar perder seus relacionamentos ou oportunidades de crescer na vida por causa do jogo.
- Pedir a ajuda de terceiros para se manter sempre ativo no jogo.
Tratamento
O tratamento para pessoas viciadas em jogos requer uma equipe bem treinada e capacitada de médicos e psicólogos especialistas que tenham experiência abrangente em como se dá o manuseio comportamental deste tipo de problema. Confira algumas das intervenções que são mais utilizadas e recomendadas para esse tipo de situação:
– Psicoterapia individual que tem o objetivo de tornar claro para o paciente quais são os motivos que o faz ser levado a jogar compulsivamente e ensiná-lo a como lidar com todos as sensações e sentimentos que perpassam o seu corpo e mente quando está diante do seu vício.
– Grupos de terapia conjunta, como o Jogadores Anônimos, os quais tem o mesmo intuito de outros grupos que oferecem ajuda mútua, como o Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos.
– Terapia em família que prediz que assim como nos casos de dependentes de substâncias químicas (drogas), a família pode acabar sendo prejudicada com as atitudes e comportamentos patológicos do jogador, bem como o influenciando com a negligência.
– Tratamento farmacólogo em casos que seja necessário introduzir medicações no tratamento para controlar o comportamento compulsivo, bem como para aliviar sentimentos depressivos e de ansiedade.
De qualquer forma, o essencial é que antes de se iniciar qualquer um dos tratamentos mencionados acima seja realizada uma avaliação do quadro por um profissional da área, para que após a identificação de quais sinais o pacientes apresenta seja recomendado o melhor de tipo de tratamento.
A principal forma de prevenir tal vício é apostar na convivência familiar, estimulando a participação de todos em momentos de socialização, como em refeições ou diálogos espontâneos. Demonstrar interesse pelas práticas do indivíduo também é importante, pois assim é possível fazer uma monitoração e avaliação do envolvimento dele com os jogos.
Além disso, é fundamental criar situações em que as pessoas da família e amigos estejam envolvidos em conjunto com atividades prazerozas, a fim de proporcionar a eles momentos em que realmente se sintam a vontade.